[MICARETADEFEIRA2024] Mulheres na percussão: Banda Didá puxa trio sem cordas e resgata o tradicional samba-reggae na Micareta de Feira

29/04/2024

                                                               Foto: Erickson Araújo

Com três décadas de caminhada afropercussiva, a banda feminina Didá desfilou na Micareta de Feira de Santana em um trio elétrico sem cordas na tarde deste sábado (20), terceiro dia da festa. O grupo é parte da programação do Governo do Estado da Bahia no Circuito Maneca Ferreira.

A passagem da banda destacou o protagonismo das mulheres e celebrou a história do movimento, criado com o objetivo de dar espaço às musicistas nos festejos populares baianos. Pela segunda vez na folia feirense, o bloco comandado pelas artistas e entoado por vozes femininas trouxe o som original do samba-reggae, gênero marcado pelo toque do timbau, repique, atabaque, percussão e outros instrumentos da música negra baiana.

"Acredito que a importância da Didá não se limita apenas à micareta. A banda tem uma relevância imensa para todas as mulheres que fazem parte dela, assim como para outras mulheres e crianças que se inspiram em nós. Este é um trabalho que vem sendo realizado há 30 anos, com a convicção de que nós, mulheres, somos capazes de fazer tudo, inclusive tocar tambor”, resumiu a vocalista Madah Gomes.

As apresentações do grupo em 2024 reverenciam o legado de Neguinho do Samba, grande afrofuturista brasileiro, criador do samba-reggae e fundador do projeto Didá. O show na Micareta incluiu sucessos dos carnavais baianos, como ‘Canto da Cidade’ e ‘Faraó’, além da alegria e dos elementos da cultura afrobrasileira característicos da banda, como as danças e os trajes coloridos.

"É uma grande honra e representatividade trazer o samba-reggae para a micareta de feira. Neste ano, nosso tema é uma homenagem a Neguinho do Samba. Completamos 30 anos de estrada graças ao nosso mestre. Somos uma banda de mulheres, sendo a primeira banda feminina afropercussiva do mundo, mas tudo começou com ele", contou a vocalista Jaciara Muniz.

                                                                    Foto: Erickson Araújo

Empoderamento da mulher negra

Acompanhada da família, a foliã Michele Marques, de 35 anos, seguiu o trio durante todo o percurso. Mãe dos pequenos José Miguel e Vicente, ela curtiu o show ao lado das crianças e do esposo, José Nilson. Para ela, a Didá representa o empoderamento da mulher negra e mostra para a sociedade que a arte tem espaço para todas as pessoas, não apenas homens.

“São músicas alegres, que trazem a cultura africana e são boas para as crianças e para toda a família. De certa maneira, a banda favorece a valorização do gênero feminino na música em geral e na Micareta. Essa representatividade é importante, principalmente para as crianças que estão vendo as mulheres se apresentando”, opinou a professora.

 De origem no idioma yorubá, a palavra ‘didá’ significa ‘o poder da criação’. Com essa inspiração na ancestralidade e nas raízes africanas, Neguinho do Samba idealizou o projeto da Associação Educativa e Cultural Didá, que abrange a banda e promove gratuitamente atividades educativas durante o ano inteiro com base na arte e nas manifestações populares criadas e mantidas pelos africanos e por seus descendentes.

Natural de Salvador, a cantora Madah ressaltou ainda o papel fundamental da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia nas atividades do grupo. “A Didá é um coletivo sem fins lucrativos. Sem o apoio necessário, não conseguimos trazer mais mulheres para a banda. Precisamos desse incentivo para continuar atraindo mais mulheres e formando multiplicadoras das nossas ações", disse a artista, que completou 12 anos na banda.

Entre as ações promovidas pelo projeto que tem sede no Pelourinho, Centro Histórico da capital baiana, estão a realização de aulas de percussão, dança afro, teatro, capoeira, artesanato, canto, bateria, violão, cavaquinho, teclado e sopro. O objetivo é educar por meio da arte as mulheres e crianças da comunidade.