#CARNAVALDACULTURA A representatividade da realeza dos blocos afro

13/02/2024

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A frase “somos descendentes de reis e rainhas” nunca fez tanto sentido no Carnaval Ouro Negro em Salvador, afinal, é tradição que alguns blocos afro apresentem seus reis e rainhas durante os desfiles da folia. Na maioria das vezes, são feitas seletivas anuais para escolher o reinado, que vai para além da representatividade apenas da beleza, mas diz também sobre inspiração, fortalecimento da autoestima e ampliação dos conhecimentos.

O bloco afro Ilê Aiyê foi o pioneiro a pautar essa representação negra com o concurso "Deusa do Ébano", subvertendo a  proposta dos concursos de beleza tradicionais. A primeira seletiva aconteceu em 1976, com a seleção da deusa Mirinha. Em 2024, o bloco celebrou 50 anos de fundação, tendo realizado 43 concursos, por meio de dança afro.

 

A Deusa do Ébano eleita no cinquentenário do Ilê Aiyê foi a professora e dançarina Larissa Valéria, de 29 anos. "Para mim essa experiência está sendo magnífica. Era um momento muito esperado, um sonho desde criança. Eu sempre falo que se você tem alguma meta e objetivo, jamais desista", disse Larissa, que conquistou o manto sagrado em sua terceira tentativa. Além da Deusa, o bloco também elege as princesas. Os títulos das princesas de 2024 são da dançarina e comunicadora Lorena Bispo, 21 anos, e da professora Caroline Xavier, 25 anos.

 

Para Antônio Carlos Vovô, presidente e fundador do Ilê Aiyê, cada concurso feito ao longo desse meio século de história representou o "fortalecimento da nossa luta", afirmou. "Nesse ano de comemoração queremos olhar para trás e também projetar o futuro. Estamos longe de poder parar. Sabemos que já fizemos muito, mas temos certeza que o caminho ainda é muito longo”, disse Vovô.

 

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Os reis e rainhas que desfilam na avenida  -  Há dois carnavais o Cortejo Afro aderiu ao reinado em seu bloco. Este ano quem leva o título é Débora Mariano, que no primeiro dia de desfile do bloco no Circuito Osmar (Campo Grande), foi vestida e coroada pela estilista Dete Lima. Débora disse se sentir honrada com o reinado e ressaltou a importância dessas entidades. “Os blocos afro da Bahia fazem parte de uma cultura transformadora, de autoestima, de força e justiça das pretas”, disse.

 

E quem produz as rainhas? Dona Dete é conhecida como a estilista das Deusas do Ébano e faz este trabalho desde a primeira edição. “Eu digo que todos os orixás e minha mãe Oxum que me deram essa oportunidade de exaltar a autoestima minha e de todas as mulheres negras”, disse a estilista.

 

Quem também faz essa preparação de reinado é o figurinista Siry Brasil, que é o Rei Vitalício do Muzenza. Ele fez seu próprio figurino para o desfile do bloco no carnaval e disse que se inspirou nas vestimentas dos personagens do filme Pantera Negra. “Para mim é muito importante trazer essa representação de beleza do homem negro”, disse. O Muzenza tem também a rainha, a pedagoga Claudia Mattos e a princesa Muzembela, Akinllana SA.

 

O reinado também é dos homens no Bloco Afro Os Negões e quem estreou no carnaval foi o “Rei Negro Lindo 2024”, Rodrigo de Oliveira, que é dançarino. “Sigo perpetuando a minha ancestralidade e afirmando a minha identidade”, disse ele, ao ser eleito campeão. Rodrigo também é o príncipe do bloco afro Malê Debalê 2024.

 

O maior balé afro do mundo, o Malê Debalê, que desfilou por dois dias no circuito do Campo Grande, apresentou também seu rei e rainha. Neste ano, o casal que assumiu o trono e o coroado foi o enfermeiro, Jefesson Santos, e a advogada, Camila Morena. “É uma grande emoção estar neste lugar de força e poder. É bom receber os olhares das crianças e ver que elas se sentem representadas”, falou Camila, que fez a sua terceira tentativa para conquistar o título de Rainha Malê 2024. O Rei Malê conquistou o reinado na sua segunda tentativa. “Eu disse que iria voltar este ano para conquistar o reinado e para mim é uma emoção muito grande ter esse título na celebração dos 50 anos dos blocos afro”, disse Jeffeson.

 

O reinado também é dos erês - As crianças também carregam seus títulos no reinado infantil. O bloco afro Ibeji já tem essa tradição há 10 anos e anualmente, realiza o concurso para eleger a realeza do carnaval. Durante o processo seletivo, as crianças recebem formações que vão de workshop de dança até atividades que visam trabalhar a autoestima de meninos e meninas. O bloco elege o Rei Mominho e o Rei e Rainha Afro Mirim. As realezas deste ano são de  Vinicius Custodio, de 10 anos, que foi eleito o Rei Mominho; o Rei Afro Mirim, Marcos Vinícius, de 7 anos e a Rainha Afro Mirim Adrielly Araújo, de 7 anos.

 

Os reinados afro são um lugar de afirmação e valorização da beleza negra. Além disso, inspiram a comunidade negra neste lugar de destaque e representação. Esse é o brilho e beleza que o Programa Ouro Negro proporciona para aos blocos, que exibem sua elegância na passarela da folia e para o mundo. Eles trazem a força da história de um povo, que por anos foi invisibilizado.


Todos estes blocos desfilaram no Carnaval 2024 contando com apoio do Governo do Estado da Bahia, através do Programa Ouro Negro, que ao todo, contemplou mais de 100 entidades para a folia momesca em Salvador. 

 

Carnaval Ouro Negro 2024 - O Carnaval da Bahia é Ouro Negro. Em 2024, foram investidos R$15 milhões para proporcionar o apoio a mais de 170 grupos dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio. Só no carnaval de Salvador são mais de 100 entidades que desfilam nos circuitos oficiais da folia. Entre as entidades contempladas estão grupos tradicionais como o Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Muzenza e Cortejo Afro.  A SecultBA amplia sua parceria com blocos tão importantes com o intuito de preservar a tradição destes na folia soteropolitana e nas suas comunidades de origem, valorizando as nossas matrizes africanas.

Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 é os 50 anos de Blocos Afro - Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, "50 anos dos Blocos Afro - Carnaval da Bahia 2024 - Nossa Energia é Ancestral".