Afoxés desfilam no circuito Barra/ Ondina no penúltimo dia de folia em Salvador

13/02/2024
Filhas de Gandhy  Fgandhy
Fotos: Adriane Rocha

 

As Filhas de Gandhy e os Filhos de Gandhy erguem-se enquanto pilares inabaláveis no cenário do Carnaval de Salvador, personificando a riqueza cultural e o legado de resistência afro-brasileira. Desde suas origens humildes, estabelecidas em 1949 e 1974, respectivamente, por trabalhadores e pescadores soteropolitanos, esses blocos encarnam um patrimônio histórico e cultural ímpar. E nesta segunda-feira, 12, ambos afoxés exalaram a alfazema, desfilam beleza e apresentaram parte deste encanto no circuito Dodô, localizado na Barra/ Ondina.

As Filhas de Gandhy, em sua formação exclusivamente feminina, representam a essência da força feminina e o combate contra as injustiças raciais e de gênero. Envergando os tradicionais trajes brancos e azuis, adornadas com colares de contas e entoando cânticos em louvor à paz e à igualdade, elas desfilam pelas ruas de Salvador, difundindo uma mensagem de tolerância e respeito.

A presidente do afoxé, Silvana Magda, expressou sua felicidade em homenagear em vida mulheres que propagam a ancestralidade: "São 45 anos das Filhas de Gandhy, e hoje, estou muito feliz por poder homenagear mulheres tão sábias. O tema do nosso afoxé deste ano é: ‘Mulheres de terreiro detentoras do sagrado’, e eu me sinto honrada por poder falar dessas mulheres, que em seus terreiros detém tanta sabedoria daquilo que é mais rico entre nós, que é a nossa ancestralidade, aquilo que nos foi herdado", afirma a presidente.

O afoxé é conhecido por trazer à avenida diversas gerações. Ilari Santos, dançarina de 22 anos, compartilha sua experiência ao desfilar pelo bloco pela primeira vez, destacando que não foi ela quem escolheu as Filhas de Gandhy, mas sim elas que a escolheram: "Esse é o primeiro ano e a primeira vez que estou adorando a experiência de ter tantas mulheres empoderadas todas juntas lutando contra sua causa, e o mais interessante disso tudo é que eu não precisei escolher sair aqui, foram elas e a ancestralidade que me escolheram", declara.

No outro lado da corda, a senhora Maria Helena sorri e abraça a todos que passam ao seu redor. Distribuindo beleza e simpatia, Maria Helena afirma estar muito feliz em poder sair mais um ano no seu afoxé do coração. São 15 carnavais propagando a força das mulheres: "Aqui é onde me sinto acolhida, gosto de sentir essa energia, afinal, já são 15 anos desfilando na avenida e mostrando a importância que nós, mulheres, temos para o carnaval e para a vida."

 

Desfile dos Filhos de Gandhy - O afoxé, composto exclusivamente por homens, levou para o Circuito localizado na Orla a presença marcante do ritmo, com instrumentos de percussão ancestrais de origem africana. Vestidos com suas indumentárias imaculadas e turbantes vibrantes, propagam a cultura afro-brasileira por meio de suas músicas e danças, fomentando a diversidade e celebrando o orgulho da herança negra.

Neste ano, o grupo carnavalesco homenageou o cantor e compositor, Caetano Veloso, com o tema "Beleza Pura". Na música, o artista cita os bairros Curuzu, Boca do Rio e Federação, todos localizados em Salvador. Além disso, menciona símbolos tradicionais da cidade, como o bloco Ilê-Aiyê, o afoxé Badauê e até o próprio "turbante do filho de Gandhi".

Este ano o Bloco desfilou com cerca de 4 mil homens, vestidos de branco, com colares de contas e turbantes brancos na cabeça, com o sentimento de trazer paz para a avenida. A alfazema que utilizam serve para purificar o local. O carnavalesco Fábio Santana, de 32 anos, relata que desfila com o afoxé há mais de uma década. Ele afirma que o bloco simboliza nada mais que paz: "Para mim, os Filhos de Gandhy representam paz. Há mais de onze anos, participo dessa celebração nas ruas. Sempre digo que os Gandhys levam a paz para a avenida. Gosto muito de fazer parte daqui."

Os blocos Filhos e Filhas de Gandhy são uma parte essencial do Carnaval de Salvador, trazendo valores de igualdade e paz. Com sua presença marcante e trajes brancos, inspiram amor e união, deixando um legado de solidariedade e celebração da diversidade.

 

Carnaval Ouro Negro 2024 - O Carnaval da Bahia é Ouro Negro. Em 2024, foram investidos R$15 milhões para proporcionar o apoio a mais de 170 grupos dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio. Só no carnaval de Salvador são mais de 100 entidades que desfilam nos circuitos oficiais da folia. Entre as entidades contempladas estão grupos tradicionais como o Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Muzenza e Cortejo Afro.  A SecultBA amplia sua parceria com blocos tão importantes com o intuito de preservar a tradição destes na folia soteropolitana e nas suas comunidades de origem, valorizando as nossas matrizes africanas.

 

Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 é os 50 anos de Blocos Afro - Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É uma folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, "50 anos dos Blocos Afro - Carnaval da Bahia 2024 - Nossa Energia é Ancestral".