#CARNAVALDACULTURA Conexão Bahia-África: Pradarrum e a banda IFÁ estreitam a ponte sonora entre as culturas afro, em pleno Pelourinho

13/02/2024
Pradarrum    Ifa
Fotos: Fhelipe dos Anjos /  Roberto Viana


A música instrumental de matriz africana esteve bem representada nos palcos do Pelourinho, nesta segunda-feira de carnaval (12), com as apresentações do projeto Pradarrum, capitaneado pelo renomado percussionista Gabi Guedes, e IFÁ, liderado pelo músico e pesquisador Fabrício Mota.

No Largo Quincas Berro D’água, o Pradarrum apresentou seu repertório autoral, com músicas elaboradas a partir dos toques e cânticos dos terreiros de candomblé: “eu comecei com essa ideia em meados da década de 1990, como um ato de homenagem aos representantes da música percussiva baiana”, explicou Gabi, que iniciou na percussão aos 10 anos de idade, no terreiro do Gantois.

O grupo abriu o show seguindo uma tradição do candomblé e tocando um tema autoral em reverência a Exú, orixá da comunicação, responsável por abrir os caminhos Outra homenagem prestada pelo Pradarrum, diz respeito à força e energia femininas, em especial as matriarcas, através da música “Senhora Mãe”, que celebra a sabedoria e o acolhimento dado pelas mães.

“A intenção inicial foi partir da música dos terreiros e traduzir essa linguagem para instrumentos como guitarra, contrabaixo elétrico e teclados, prestando essas homenagens em forma de conexão musical”, explicou o músico. Além dos instrumentos citados, a formação conta também com saxofone, trombone e bateria, esta última tocada pelo prodigioso multi-instrumentista Filipe Guedes, sobrinho de Gabi.

Sobre a conexão Bahia-África realizada pelo Pradarrum, o cineasta senegalês Mamadou Diop, 40 anos, comenta que está fascinado em conhecer esse universo musical baiano, porque no Senegal ele não tinha noção de que esse tipo de música era feito aqui em Salvador: “Eu acho que os afro-brasileiros estão sabendo mais sobre a cultura africana do que nós sabemos das coisas daqui”, disse o cineasta. Sobre a sensação dele ao estar em Salvador, ele completa: “Eu vejo uma mulher vendendo acarajé e me sinto em casa, porque também temos essa vivência no Senegal. É uma sensação muito boa”.

Já no Largo Tereza Batista, a banda IFÁ trouxe para o carnaval as suas obras autorais, que dialogam diretamente com os três gêneros musicais cujas iniciais compõem o seu nome: ijexá, funk e afrobeat. O grupo é diretamente inspirado na musicalidade do afrobeat nigeriano, em um diálogo intenso com as matrizes musicais afro-baianas.

Reconhecendo a importância dos blocos afro na construção da nossa cultura e autoestima, Fabrício Mota abriu o show exaltando a importância de entidades como o Ilê Aiyê e os Filhos de Gandhy: “Nós temos que enaltecer sempre esses blocos, porque são parte da nossa história de luta e da nossa identidade”, disse.

“O IFÁ é uma banda de música instrumental que enfatiza as referências africanas com nítidas referências do jazz, que é música negra, e buscamos celebrar esses encontros musicais da diáspora. A gente faz uma música com o que de mais moderno pode haver, que é a ancestralidade, porque temos uma ideia de ancestralidade presa ao passado, mas essa herança é algo em movimento, presente, e em constante evolução”, explicou Fabrício.

Atrações como o IFÁ, levam ao Pelourinho um público que costumeiramente não frequenta o Centro Histórico, reforçando a natureza diversa da folia carnavalesca nesse circuito. O estudante de jornalismo Ciro Garcês, 28 anos, natural de Salvador, achou uma ótima ideia a inclusão de um grupo como o IFÁ no carnaval do Pelourinho: “acho que, além da qualidade musical, o carisma dos músicos e a condução dos shows por parte da banda são um grande atrativo. Conheci a banda no ano passado e virei fã, onde eles tocam eu procuro assistir”, disse o estudante.

Nesse show, que lotou a praça Tereza Batista, foi possível ver parte do público entoando as melodias das faixas do IFÁ, demonstrando a efetividade prática do lema do grupo, que, segundo, Fabrício Mota: “é o ‘fé no groove’, que são melodias que ‘rimam’, possibilitando uma conexão dos músicos do grupo com a plateia”, explica. Pelo que se vê nos shows da banda, e nesta apresentação no carnaval, essa conexão vem acontecendo com sucesso.


Carnaval Amô Pelo Pelô 2024 - Todo dia é tempo de demonstrar o #AmôPeloPelô. Mas no Carnaval esse movimento se intensifica e o Governo da Bahia investe para fazer das ruas, ladeiras, vielas e largos verdadeiros palcos de expressão da nossa cultura. No Pelourinho, a folia é animada, diversa e democrática que abraça o carnaval de rua, microtrios e nanotrios, além de promover, nos palcos, grandes encontros musicais e variados ritmos numa ampla programação. Tem Afro, Reggae, Arrocha, Axé, Antigos Carnavais, Samba, RAP, Pagode/Pagotrap, pop e Guitarra Baiana, além de Orquestras e Bailes Infantis.

 

Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 são os 50 anos de Blocos Afro - Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É o carnaval dos blocos afro, de samba, de reggae e dos afoxés, apoiados por meio do Edital Ouro Negro para desfilar nos três principais circuitos da folia: Batatinha, Dodô e Osmar. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, "50 anos dos Blocos Afro - Carnaval da Bahia 2024 - Nossa Energia é Ancestral".