#CARNAVALDACULTURA Não são somente foliões de um bloco - Conheça as entidades que além de ancestralidade trouxeram suas comunidades para os Circuitos Osmar, nesta segunda

13/02/2024


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Fotos: Fafá Araújo 

 

De modo direto, comunidades são grupos de pessoas que compartilham algo em comum. E em Salvador, a cidade com maior população negra fora da África, se tem algo que é comum à grande maioria, são nossas raízes ancestrais. É essa a noção de comunidade que os blocos de matriz africana transmitem no Circuito Osmar, nesta segunda-feira (12) de Carnaval. Os desfiles de blocos como Dida, Malê Debalê, Muzenza, Cortejo Afro, Bankoma e Ilê Aiyê compartilham o resultado do trabalho de suas comunidades que celebram a cultura afrodiaspóricas.

Além de beleza e ancestralidade, o Bloco Afro Didá desfila orgulhoso e pertencimento de um povo. Isto ficou evidente, neste quinto e penúltimo dia de folia carnavalesca (12), no Circuito Osmar durante a passagem da primeira banda de percussão formada só por mulheres negras no Brasil, mais conhecida como Banda Didá.

Debora Souza, 46 anos, produtora e vice-presidente da Dida falou sobre as dificuldades e alegrias em colocar o bloco na rua. “É uma ansiedade muito grande! É muito difícil! Mas esse ano foi o ano mais tranquilo. A gente conseguiu ter um apoio maior do Ouro Negro. Isso facilita, para que a gente possa trazer o nosso povo pra rua”, disse Débora. “Pra gente também é muito gratificante, que essas meninas possam levar essa renda para a casa delas”, completou Débora, sobre a movimentação econômica que a ajuda de custo que as percussionistas recebem promovem.  

Para Itana Jesus dos Santos, 36 anos, a terceira geração da família a sair no bloco, o desfile de hoje foi praticamente uma reunião familiar. A trancista estava acompanhada das duas filhas percussionistas da banda, Ilana de Jesus, com 16 anos e Ilana Maris, de 6 anos. “Eu já saio com a Didá, a mais de 12 anos, comecei a vir com minha mãe. E hoje tenho duas filhas na banda, então a emoção é redobrada”, ressaltou Itana, sem parar de filmar a caçula que arrebentava no tambor.

O Secretário de Cultura do Estado, Bruno Monteiro, que prestigiou a saída do Bloco Didá, falou sobre a importância de trazer as comunidades originais para a folia. “A Didá, assim como outras dezenas de entidades, representa aquilo que é a essência dos blocos afro. Que é a representatividade, a força de transformação por meio da cultura. E é um trabalho social que transcende qualquer coisa realmente ligada à cultura. É educação, é um trabalho de inclusão social, é um trabalho de disputa do território da religiosidade. Então tudo isso se encontra e se manifesta neste dia lindo”, afirmou o Secretário Bruno.

Para além do Carnaval - Esta relação é semelhante ao Malê Debalê, em Itapuã; Bankoma, em Portão (Lauro de Freitas); Muzenza, no Pelourinho; Os Negões, na Vasco da Gama e outras dezenas de entidades de matriz africana do carnaval de Salvador. Esta atuação social e comunitária é algo presente, também, entre as  contempladas do edital Carnaval Ouro Negro. Essas instituições desenvolvem diversas atividades culturais e ações sociais durante todo o ano, sendo os desfiles de carnavais apenas uma de suas ações, sobretudo nas suas comunidades de origem.

Outro bloco que fez uma verdadeira ocupação territorial na passarela do Campo Grande foi o pioneiro dos blocos afro, nascido dentro de um Terreiro de Candomblé, na Liberdade, o Ilê Aiyê. Aliomar de Jesus, 71 anos, vice-presidente do bloco, pontuou exatamente o pertencimento que os foliões do Ilê Aiyê sentem em se ver representados em toda a temática que envolve o bloco. “Aqui no IIê Aiyê o que você perguntar de ancestralidade, ela está representada”, assegurou Aliomar.

A representação social que o Ilê proporciona é um dos motivos pelos quais a assistente social, Marinildes Alves, já desfila com o bloco há 19 anos. “É também por isso que as mulheres são mais presentes neste bloco. É importante que estejamos reunidas é nosso dever e obrigação”, disse Marinildes sobre a força da mulher negra dentro das periferias.

 

Carnaval Ouro Negro 2024 - O Carnaval da Bahia é Ouro Negro. Em 2024, foram investidos R$15 milhões para proporcionar o apoio a mais de 170 grupos dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio. Só no carnaval de Salvador são mais de 100 entidades que desfilam nos circuitos oficiais da folia. Entre as entidades contempladas estão grupos tradicionais como o Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Muzenza e Cortejo Afro.  A SecultBA amplia sua parceria com blocos tão importantes com o intuito de preservar a tradição destes na folia soteropolitana e nas suas comunidades de origem, valorizando as nossas matrizes africanas.

 

Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 é os 50 anos de Blocos Afro - Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É uma folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, "50 anos dos Blocos Afro - Carnaval da Bahia 2024 - Nossa Energia é Ancestral".