#CARNAVALDACULTURA Amor pelo samba: a tradição e resistência dos blocos de samba na sexta de carnaval

13/02/2024


sambadasexta

Foto: Jailson Barbosa


“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é”. Foi com esse trecho de um clássico samba que Manoel Natividade, mais conhecido como Natinho - fundador do bloco Samba Popular, declarou seu amor pelo ritmo. “Eu amo o samba”, disse. Conduzido pelo grupo musical “A grande família” e com participação especial do cantor e compositor Nelson Rufino, o grupo desfilou no Circuito Osmar (Campo Grande), na noite desta sexta-feira (9).

O bloco homenageou o cantor, capoeirista e artista baiano Tonho Matéria. “Conheci ele ainda menino, no bairro do Pau Miúdo. Foi um menino pobre que se tornou um grande artista. Nada mais justo do que homenagear um artista vivo, que é referência e um grande amigo”, destacou o presidente do bloco, Natinho.

Ele contou que o bloco é destinado aos amantes do samba e que leva este nome, porque busca trazer um preço justo aos associados, que são em sua maioria oriundos de bairros populares. O bloco existe há 19 anos e segundo ele “começou como uma brincadeira de amigos”. Natinho relembrou também da sua grande referência, seu pai, que o levava ainda criança para ver diversos blocos da cidade e ficou registrada como memória afetiva.

 

redutodosamba

Foto: Joelma Antunes


Um legado de família

Quem também segue o legado do samba e herdado do pai, é Itatiara Santos, diretora do bloco Gera A Dois, do bairro de Plataforma, Subúrbio de Salvador. Seu pai, Carlos Alberto, faleceu há 13 anos e fundou o bloco em 2001. Atualmente, Itatiara e seu irmão estão na direção. “Foi muito desafiador conduzir o bloco após o falecimento de meu pai, mas em sua memória, seguimos o seu legado e também o homenageamos no carnaval deste ano", destacou a diretora. O bloco desfilou com a banda Samba Comunidade, no sentido do contrafluxo do circuito Osmar .

A foliã e educadora social, Rita de Cássia, 55, é amante do ritmo e há 25 anos acompanha e curte com blocos de samba no carnaval. "O samba nasceu na Bahia e tem a ver com a minha história, meu pai era sambista de escola de samba aqui em Salvador", relembra.

Desta mesma forma, o folião Valdécio Santos, 70 anos, foi acompanhado da sua família de santo do terreiro de candomblé para curtir o bloco Alvorada., que também desfilou na sexta-feira de carnaval. Ele disse que a agremiação é “um importante movimento de tradição do samba” e faz questão de sair todos os anos com seu grupo. O Alvorada é pioneiro na tradição do samba nas sextas de Carnaval. Além dele, diversos grupos familiares acompanham o bloco, o que o caracteriza enquanto um bloco de família. De acordo com o presidente, Vadinho França, isso só é resultado de um trabalho constante de acolhimento aos processos do tempo e de renovação do público, de forma orgânica. “Hoje o Alvorada reúne umas três gerações de amantes pelo samba e pela entidade, pois é um amor passado de pai para filho, e assim vai”. 

 alvorada

Foto: Fafá Araújo


Homenagem ao Apaxes do Tororó

O bloco Reduto do Samba, nascido no bairro do Tororó, homenageou os 55 anos do bloco carnavalesco de inspiração indígena, Apaches do Tororó. Newton Dias, 70 anos, presidente do Reduto, relembrou as repressões que o Apaches sofreu na década de 1970, ao levar milhares de associados para as ruas. “Lembro do quanto o bloco sofreu repressão policial naquela época, ao levar milhares de foliões para a rua. Para aquela época era assustador. O bloco saía da região do Dique do Tororó até Campo Grande. Essa homenagem é para valorizar o legado e as nossas produções”, destacou.

Fundado há 21 anos, o Reduto do Samba surgiu a partir de um desejo de um grupo de amigos. Newton disse que 40% dos foliões recebem cortesia, porque fazem parte da história da agremiação. Ele ressaltou que o Programa Carnaval Ouro Negro contribui para levar o bloco para a avenida. O desfile foi conduzido pelo cantor Eduardinho Fora da Mídia, de Salvador.

 

Carnaval Ouro Negro 2024 - O Carnaval da Bahia é Ouro Negro. Em 2024, foram investidos R$15 milhões para proporcionar o apoio a mais de 170 grupos dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio. Só no carnaval de Salvador são mais de 100 entidades que desfilam nos circuitos oficiais da folia. Entre as entidades contempladas estão grupos tradicionais como o Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Muzenza e Cortejo Afro.  A SecultBA amplia sua parceria com blocos tão importantes com o intuito de preservar a tradição destes na folia soteropolitana e nas suas comunidades de origem, valorizando as nossas matrizes africanas.

Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 é os 50 anos de Blocos Afro - Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, "50 anos dos Blocos Afro - Carnaval da Bahia 2024 - Nossa Energia é Ancestral".