#CARNAVALDACULTURA Tradicional ritual de saída dos Filhos de Gandhy atrai até atores da Globo no Pelourinho

12/02/2024

gandhy

Ao som de trombeta e agogô, instrumentos que caracterizam o ritmo ijexá, o afoxé Filhos de Gandhy saiu em cortejo da sua sede na rua Maciel de Baixo ao Largo do Pelourinho, para realizar o Padê, ritual em saudação ao orixá da rua, Exú, no início da tarde deste domingo, 11. A cerimônia reuniu os integrantes do maior afoxé do Brasil e atraiu a atenção de baianos e visitantes, entre eles os atores Humberto Carrão, Evaldo Macarrão, Diogo Almeida e Paulo Lessa.

Fundado há 75 anos, em 1949, o afoxé Filhos de Gandhy representa o candomblé de rua. Oferecido ao orixá mensageiro e patrono das ruas, como um pedido de licença e comunicação com os outros orixás, o Padê é caracterizado com uma oferenda de farofa de azeite de dendê, milho branco, revoada de pombos brancos e borrifamento de alfazema, ao som de cânticos em ijexá entoados por músicos e foliões.

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Na sala da diretoria do afoxé, personalidades públicas aguardavam a saída do cortejo para o padê. Os atores da Rede Globo Paulo Lessa, Evaldo Macarrão, Diogo Almeida e Humberto Carrão, que, pela primeira vez, vestiam a indumentária do afoxé Filhos de Gandhy, pareciam viver um momento transcendental diante da história registrada em esculturas sagradas, fotos e livros sobre o afoxé criado pelos estivadores do porto de Salvador.

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Vestido com a roupa do afoxé evisivelmente emocionado, o ator e psicólogo carioca, Diogo Almeida, que interpretou o personagem Orlando, protagonista da novela “Amor perfeito”, disse que há nove anos não passava o carnaval em Salvador, e desta vez, optou por curtir a festa carnavalesca como um filho de Gandhy. “É um carnaval muito especial porque estou saindo pela primeira vez com o afoxé Filhos de Gandhy. É um movimento tão importante porque a gente entra em contato com os nossos ancestrais. Quando eu fui colocar a roupa, a cada etapa, eu me arrepiava. O afoxé transmite uma energia muito forte, e eu estou muito feliz de estar aqui com vocês”, contou o ator.

Rito ecumênico - Para o padre Lázaro Muniz, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Salvador, é uma oportunidade valiosa poder ver o cortejo do afoxé, porque é uma expressividade artística e musical que representa a cultura da Bahia. “O afoxé Filhos de Gandhy é o maior exemplo de cultura, respeito à diversidade e busca da paz. São 75 anos de uma experiência bonita de vestir a cidade durante o carnaval com o branco da paz e a beleza cultural negra”, contou o padre.

O antropólogo e babalorixá do Axé Ilê Obá Loke, Vilson Caetano, que também é um filho de Gandhy, contou que na sede do afoxé existe a presença de vários orixás. “Alguns orixás estão ligados à rua, que ficam mais expostos, onde as pessoas vêem; e há alguns orixás que ficam dentro de casa, onde as pessoas não têm acesso. Dos orixás que estão ligados à rua, nós temos Exú, que é o orixá do caminho, com o princípio do crescimento, do desenvolvimento e da comunicação. Sem Exú nada acontece e nada se inicia. Como o carnaval representa momentos de alegria, Exúé considerado o patrono do carnaval”, pontuou o antropólogo.

Antes do padê do afoxé Filhos de Gandhy, o aposentado soteropolitano Valter Souza, 84 anos, já estava emocionado enquanto aguardava a artesã costurar o turbante sobre a cabeça. Ele disse que acompanha o afoxé desde a adolescência. “Eu gostei do Gandhy ao ver o cortejo pela primeira vez na Rua Chile e passei a frequentar. O Gandhy representa tudo! É a nossa criação. É a nossa cor”, contou o filho de Gandhy.