#CARNAVALDACULTURA Ilê Aiyê celebra 50 anos de resistência, vida e beleza no Curuzu em Salvador

11/02/2024

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Foto: Fafá Araújo e Mirtes Fernanda


O Curuzu estremeceu no sábado (10) de carnaval. O Ilê Aiyê celebrou 50 anos de resistência e vida. O primeiro bloco afro do Brasil exaltou a negritude e toda sua beleza nas ruas da Liberdade. O grupo cultural tem uma história singular no carnaval e nas comunidades quilombolas e dos povos do candomblé.  “A coisa mais linda de se ver” desfilou no bairro da Liberdade, com a  tradicional cerimônia de saída do Terreiro Ilê Axé Jitolú (Casa de Mãe Hilda) seguiu até o Plano Inclinado.

Varandas das casas enfeitadas, moradores acenando da janela uma grande mobilização da comunidade.  A mobilização em torno da festa mostra a força que o grupo tem na transformação social. “O que vemos aqui é uma noite memorável, diante de uma cidade racista em que vivemos, nós estamos aqui na luta pela nossa sobrevivência e celebrando 50 anos com muita alegria e muita emoção”, disse Vovô, presidente do Ilê Aiyê. 


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Foto: Fafá Araújo e Mirtes Fernanda


A saída do bloco no Curuzu é um espetáculo a céu aberto. Um oferenda de gratidão aos orixá. Personalidades como o governador do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues, o cantor Caetano Veloso, a influencer Maíra Azevedo, (conhecida como Tia Má), a cantora Luedji Luna e a apresentadora Rita Batista prestigiaram o carnaval que celebra os 50 anos do Ilê. O governador, Jerônimo Rodrigues, destacou que “há uma energia em torno dessa construção que mistura desafios e resistência para chegar aos 50 anos com o mesmo brilho e, vemos que estar a cada dia mais forte. E nós precisamos reconhecer o esforço de cada parte desse grupo. Temos que celebrar o Ilê e toda sua luta”.

Bruno Monteiro, secretário de cultura do estado da Bahia, disse que “tudo que vemos aqui compõe um ambiente de reverência e contribuição que os blocos afro têm, não só para o nosso carnaval, mas para nossa formação cultural como o todo”. Já Caetano Veloso, cantor, com um largo sorriso no rosto, declarou: “Eu subi a ladeira de novo, fazia muitos anos que não vinha ver o Ilê, vejo o bloco sempre, mas fazia anos que não via a saída, mas estou aqui para celebrar.

Assuncao Aguiar é do Piauí e coordena o bloco afro `coisa de Negro` na folia piauiense. O carnavalesco comenta que chegou para reverenciar o Ilê e disse que o seu bloco éum filho do Ilê. Aguiar destacou que “o Ilê é minha referência, pensar no Ilê e pensar no meu povo preto feliz e com direito e respeito”. 

Na ladeira do Curuzu, com lágrimas, tia Má frisa: “o grupo surge na necessidade de ocuparmos espaços na sociedade. Estou extremamente feliz, porque celebramos essa data, mas refletimos que ainda hoje a gente precisa lutar para que não tomem o que já conquistamos”, a jornalista ainda ressaltou a importância da matriarca do Bloco, Mãe Hilda Jitolu, no processo de construção do Ilê Aiyê.

 

Desfile - Timbal, repique, caixa e marcação estendida pela Senzala do Barro Preto fazia o mapa de como o Ilê desfilaria, no seu cortejo de 50 anos. Para Heraldo Souza Jr, produtor cultural do grupo, com 22 anos de bloco, “trabalhar para o movimento é um ato de gratidão e retribuição pelo o que Ilê fez e vem fazendo na comunidade”, destaca o jovem que é integrante desde período da Banda Erê, segmento infantil da instituição.

Gerusa Menezes, artesã capilar, foi eleita Deusa do Ébano em 1998 e falou sobre a importância da transformação, destacando que “quando trabalhamos com ancestralidade a nossa história se transforma”. Gerusa afirma que “o Ilê fomentou na comunidade do Curuzu régua e compasso. Hoje o Cururu, o Brasil e o mundo está em festa, o movimento transformou a nossa sociedade e estamos aqui para celebrar isso”, reforçou a artesã.

O movimento promove a expansão da beleza negra, ancestralidade e herança dos Orixás. A emoção estava estampada nos sorrisos. Para o padre Lázaro Muniz, da Igreja Rosário dos Pretos, “o Ilê é uma grandeza. São 50 anos de consciência negra e transformação da sociedade, em torno dessa ancestralidade e esse memorial significa muito para mim”.

Está beleza ainda chegou a Avenida, no circuito Osmar. Fazendo seu segundo trajeto num mesmo desfile, o negrume da noite, como também é conhecido o Ilê Aiyê, desfilou do Campo Grande ao Relógio de São Pedro, com mais de dois mil associados acompanhando, as 4h. Uma grandeza traduzida na força da luta do povo negro. O bloco desfila nos dias 12 e 13 de fevereiro, no Circuito Osmar (Campo Grande).

 

Carnaval Ouro Negro 2024 - O Carnaval da Bahia é Ouro Negro. Em 2024, foram investidos R$15 milhões para proporcionar o apoio a mais de 170 grupos dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e de índio. Só no carnaval de Salvador são mais de 100 entidades que desfilam nos circuitos oficiais da folia. Entre as entidades contempladas estão grupos tradicionais como o Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Muzenza e Cortejo Afro.  A SecultBA amplia sua parceria com blocos tão importantes com o intuito de preservar a tradição destes na folia soteropolitana e nas suas comunidades de origem, valorizando as nossas matrizes africanas.

Carnaval da Cultura – Comemorar, enaltecer e fortalecer os Blocos Afro em seus 50 anos de existência, contados a partir do nascimento do Ilê Aiyê, o pioneiro, é garantir que a festa também seja um lugar para que negras e negros baianos contem as suas narrativas e façam parte da história do mundo. Por isso, o tema do Carnaval da Bahia em 2024 é os 50 anos de Blocos Afro - Nossa Energia é Ancestral. Em cada circuito, em cada sorriso, em cada bloco desfilando as belezas do povo preto, em cada brilho pelas ladeiras do Pelô. É a folia animada, diversa e democrática do Carnaval e é também a preservação do patrimônio cultural, com o apoio ao carnaval tradicional dos mascarados de Maragojipe. O Carnaval da Cultura é promovido pelo Governo do Estado, "50 anos dos Blocos Afro - Carnaval da Bahia 2024 - Nossa Energia é Ancestral".