Ato simbólico de assinatura dos contratos do Programa de Fomento às Filarmônicas do Estado da Bahia

07/09/2010
Cerimônia reúne representantes do Estado e de filarmônicas baianas nesta quinta-feira (30/9), no Palácio Rio Branco, em celebração à iniciativa que apoia uma das mais significativas tradições da música popular O Programa de Fomento às Filarmônicas do Estado da Bahia, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), através da Fundação Cultural (FUNCEB), com apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), chega a uma etapa importante de sua execução: a assinatura de contratos para a concessão de apoio a 89 filarmônicas baianas. Nesta quinta-feira, 30 de setembro, às 18 horas, um ato simbólico será realizado no Salão de Gala do Palácio Rio Branco (Centro), com a presença do secretário de Cultura Márcio Meirelles e de representantes de filarmônicas de diversos municípios da Bahia. A cerimônia marca a efetivação do Programa, que prevê investimento total da ordem de R$ 6,2 milhões, e que, inicialmente, disponibilizou R$ 4 milhões para aquisição, reforma e conserto de instrumentos musicais, além de aquisição de acessórios para instrumentos, fardamento e equipamentos de informática. As filarmônicas desempenham um papel fundamental na cultura baiana, sempre presentes em eventos cívicos, religiosos e festas populares. Contribuem ainda para a educação musical de cidadãos residentes nos municípios em que atuam e para a profissionalização de músicos e sua inserção no mercado de trabalho local e regional. Além disso, as sedes de muitas filarmônicas possuem hoje boa parte da memória musical da Bahia. Estas peculiaridades são especialmente importantes para as comunidades do interior do estado, onde as filarmônicas representam um significativo meio de inclusão cultural e social. O maestro baiano Fred Dantas, um dos mais importantes nomes das filarmônicas brasileiras na contemporaneidade, resume: “As filarmônicas têm uma importância especial porque, há aproximadamente 150 anos, oferecem uma alternativa, uma ocupação, um encaminhamento à juventude de forma gratuita. Os laços comunitários que elas mantêm com as cidades, a ligação com as pessoas, com dados e fatos importantes da localidade também reiteram seu valor”. Fred Dantas fundou a Oficina de Frevos e Dobrados, a Orquestra Fred Dantas e, em parceria com o UNICEF, responde pelo projeto Filarmônica das Crianças, que desenvolve seu trabalho no Centro Histórico de Salvador. Ele é também responsável pela criação da Escola e Filarmônica Ambiental, em Camaçari, e pela Lira de Maracangalha. “As filarmônicas ainda estimulam a produção da cultura local, da música: um acervo que deve ser mais conhecido e divulgado. As poucas filarmônicas que são conhecidas internacionalmente são consideradas obras-primas. Quantas outras não precisam mostrar sua música?”, complementa Fred. Tendo em vista este cenário, a SecultBA realizou, em 2009, o cadastramento das filarmônicas da Bahia, o que permitiu o conhecimento das características e demandas destes grupos, reunindo subsídios para a criação do primeiro Programa de Fomento às Filarmônicas do Estado da Bahia, cujo objetivo é incentivar e valorizar a importante tradição musical das filarmônicas. O mapeamento da realidade prática destas entidades, a partir de dados quantitativos e qualitativos respaldados, tem sustentado a concepção de uma política pública prioritária adequada à realidade destas entidades, com aporte financeiro sólido. O cadastramento contabilizou 183 filarmônicas baianas, localizadas em todos os 26 Territórios de Identidade do estado e sediadas em 170 municípios, responsáveis pela mobilização de cerca de 4,5 mil músicos e 8 mil alunos. A partir disso, no último mês de maio, estas 183 entidades foram convocadas para se credenciarem no Programa então desenvolvido, que executa, a princípio, o financiamento daquilo que se revelou prioridade para o apoio à manutenção das filarmônicas: aquisição, reforma e conserto de instrumentos; aquisição de acessórios para instrumentos; aquisição de fardamento; e aquisição de equipamentos de informática. Este tópico final foi incluído pela constatação de que menos de 10% das filarmônicas estão inseridas no contexto digital – uma limitação para as atuais formas de produção, difusão e consumo de música. O lançamento do Programa foi então realizado com uma apresentação da Grande Filarmônica na sala principal do Teatro Castro Alves, em 30 de maio. O grupo foi composto por 140 músicos de quatro filarmônicas (Sociedade Filarmônica Filhos de Apolo, de Santo Amaro; Sociedade Filarmônica 2 de Janeiro, de Jacobina; Sociedade Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses, de Senhor do Bonfim; e Sociedade Musical Oficina de Frevos e Dobrados, de Salvador), sob regência de Fred Dantas. Com o credenciamento, excetuando aquelas que não se apresentaram no prazo estipulado ou que não estavam aptas a receber recursos do Estado, foram contempladas 89 filarmônicas, que vão receber verbas entre R$ 26 mil e R$ 32 mil, para os fins já descritos. Destas, duas são de Salvador e as outras do interior do estado: uma intervenção sociocultural em larga escala, de efetiva interiorização do fomento público, contribuindo com a política de descentralização de recurso e dinamizando a cultura em toda a Bahia. Agora, representantes das 89 filarmônicas estarão reunidos em Salvador, nesta quinta-feira, 30 de setembro, para assistir a uma palestra instrutiva, com prestação de contas e esclarecimentos, a ser realizada pela FUNCEB no auditório do SEBRAE, no turno vespertino, com  posterior assinatura de contratos para efetivação da transferência da verba. No início da noite, às 18 horas, o secretário de Cultura da Bahia Márcio Meirelles se encontra com estes representantes e demais interessados para o ato simbólico da assinatura dos contratos, a ser realizado no Salão de Gala do Palácio Rio Branco, celebrando este momento. Os passos seguintes do Programa de Fomento às Filarmônicas do Estado da Bahia incluem o lançamento de um edital exclusivo a estas entidades, com recursos do Fundo de Cultura da Bahia; a edição do Catálogo das Filarmônicas, uma publicação bilíngue que apresentará as filarmônicas cadastradas; a realização do Curso de Qualificação para Gestão, Empreendedorismo e Elaboração de Projetos, em parceria com o SEBRAE, para qualificação de gestores de filarmônicas; a criação de um Portal das Filarmônicas, ambiente virtual de concentração de notícias, informações e interlocução; a Preservação do Acervo e Memória das Filarmônicas, com pesquisa e registro dos arquivos musicais e históricos; a Qualificação de Mestres e Músicos, para aperfeiçoamento de metodologias de ensino de música; e o Curso de Reparos em Instrumentos, com oficinas para jovens. Serviço Ato simbólico de assinatura dos contratos do Programa de Fomento às Filarmônicas do Estado da Bahia Quando: 30 de setembro de 2010 (quinta-feira), às 18 horas Onde: Salão de Gala do Palácio Rio Branco (Praça Thomé de Souza – Centro) Sobre Filarmônicas A palavra filarmônica pode significar “povo da música” ou “amigo da música” e designa geralmente uma sociedade civil sem fins lucrativos. Com história secular, a tradição das filarmônicas (também chamadas de liras, bandas civis ou simplesmente de bandas de música) existe em quase todo o mundo, estando geralmente associada à música militar. Elas são organizações de ensino, criação e execução musical, tendo formação e estilo bastante peculiares. Na Bahia, mantém-se o costume de criar composições próprias, e as marchas musicais tornaram-se aquilo que chamamos de “dobrado”, a marcha brasileira. O caráter social das filarmônicas também as faz aparecer em importantes acontecimentos históricos, reunindo movimentos e grupos. “Nomes baianos como Estevam Moura, Manuel Tranquillino Bastos e Amando Nobre são considerados gênios das filarmônicas porque foram criadores do dobrado brasileiro, transmitido aqui na Bahia, apresentando uma identidade muito própria e característica, emancipando as músicas de filarmônicas do caráter militar, trazendo-as como obras de concerto. Elas têm uma importância muito grande porque participaram de momentos históricos no Brasil, de movimentos sociais importantes no país como a Independência da Bahia, a abolição da escravatura e a Proclamação da República”, explica Fred Dantas. Os três nomes citados por Fred Dantas representam parte da rica tradição filarmônica na Bahia. O feirense Amando Nobre destacou-se pela habilidade de seus arranjos, e Estevam Moura, nascido em Santo Estevão, também no Portal do Sertão da Bahia, foi um virtuose da música desde a infância – regeu filarmônicas em sua cidade natal e em diversas outras onde morou durante sua vida. Estevam revolucionou a execução dos dobrados e assinou composições que são eterna referência para as filarmônicas. Já o maestro Manuel Tranquilino Bastos, que se iniciou também ainda menino, músico autodidata, negro abolicionista, criou, em 1870 – portanto, ainda no regime escravista –, a Lyra Ceciliana, no município de Cachoeira, no Recôncavo baiano, executando um trabalho erudito e libertário. A história de 140 anos da filarmônica, uma das mais importantes organizações desta natureza, reserva uma grande memória histórica, com um notável acervo de mais de 500 composições – parte dele preservado pelo setor de Obras Raras da Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Vale também citar entre as grandes filarmônicas da Bahia a Filarmônica 5 de Março, da cidade de Mutuípe, a Filarmônica Erato Nazarena, com quase 150 anos de existência, da cidade de Nazaré, a igualmente secular Lyra Popular de Castro Alves, também formada por grupos intelectuais abolicionistas, e a Terpsícore Popular de Maragogipe, fundada em 1880 pelo maestro Theodoro Borges da Silva. Na parte musical, uma filarmônica inclui um mestre, um contramestre, um ou mais professores, discípulos, o corpo musical, os aprendizes e iniciantes. Flautas, clarinetas, saxes, trompetes, trombones, caixas e pratos são alguns dos instrumentos de sopro e percussão que compõem a banda. As formas mais comuns de composição são o dobrado, a polaca, as marchas solenes, marchas religiosas e fúnebres, valsas, sambas e maxixes, marcha-frevo, fantasias e arranjos. Essas entidades, depois do enorme prestígio social experimentado na primeira metade do século passado, enfrentaram uma progressiva decadência na metade seguinte. Nos tempos áureos, a banda de cada cidade estava em todos os momentos, de funerais ao carnaval. Composições eram aplaudidas e criticadas, maestros eram celebridades regionais e os músicos habilidosos eram admirados por todos. Com a chegada da era do rádio, os modismos musicais foram se sucedendo e as filarmônicas se revezavam entre a execução dos dobrados da tradição e as transcrições dos sucessos do momento para a linguagem dos sopros. Os anos de 1960 foram a época de menor prestígio das filarmônicas, distantes de um modelo musical e de comportamento que se espalhava mundialmente. Na década de 1970, a sobrevivência das filarmônicas se deve, sobretudo, a uma íntima relação com os políticos e interesses eleitorais em cada região. Bandas de música, que eram parte de um cenário de cidades pequenas, estavam então em meio à migração dos melhores talentos para cidades maiores, com uma juventude a princípio entusiasmada com essa nova ordem. O que restou nos anos 1980 foi uma ideia de banda de música como atividade de velhos, sujeita a aparições de caráter jocoso e caricato em novelas de televisão. A ação na Bahia da Sociedade Lítero-Musical 25 de Dezembro, da cidade de Irará, e o surgimento da Oficina de Frevos e Dobrados, na capital, foram dois momentos fundamentais para a manutenção da tradição. Reconhecem-se, também, os méritos de entidades como a Terpsícore de Maragogipe, a Minerva e a Lira de Cachoeira, bandas de Muritiba, a União dos Ferroviários Bonfinenses, bandas de Lençóis e Mucugê e tantas outras, por terem resistido. Em muitas cidades, as sedes das filarmônicas se tornaram clubes sociais ou foram destinadas a outros usos que não a música. A então SETRABES (Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social) mantinha um programa de apoio às filarmônicas, que organizava no Campo Grande um festival de grande aceitação. Projeto de mesmo nome foi ressuscitado, dessa vez pela Fundação Cultural do Estado, em meados da década. A criação de uma Casa das Filarmônicas, um antigo pleito, foi implantada, inicialmente pelo governo, tornando-se depois uma razão social própria. Entre o fim da década de 1990 e o início do terceiro milênio, surgiu também o significativo Festival de Filarmônicas do Recôncavo. Fato é que, apesar das dificuldades, o número de filarmônicas na Bahia mais que duplicou nos últimos 20 anos, ainda que os antigos mantenedores das filarmônicas tenham redirecionado seus investimentos. Hoje, as filarmônicas auferem receita, quase exclusivamente, de doações e/ou contribuições dos seus associados e cobrança de cachês pelas tocatas (denominação dada às suas participações nos eventos). Essas receitas são, via de regra, insuficientes para cobrir custos, o que resulta na dificuldade de manutenção de sedes, fardamento, acervos de partituras e instrumentos musicais. Parte deste texto tem informações e trechos adaptados do artigo A Filarmônica Hoje, de Fred Dantas, disponível no site da FUNCEB: http://tinyurl.com/filarmonica