Biblioteca Pública do estado prepara comemoração dos seus 200 anos

20/08/2010
A primeira biblioteca do país e da América Latina, a Biblioteca Pública do Estado da Bahia, vai completar 200 anos em 2011 e terá comemoração em alto estilo, a altura da importância de sua participação na história da cultura baiana. Desde já, várias medidas estão sendo adotadas com o objetivo de modernizar o atendimento e ampliar o acesso dos usuários, além de uma série de atividades, iniciadas no último dia 4 de agosto, para marcar a celebração do bicentenário. Entre as atividades já definidas está uma exposição de fotos e obras que retratam a trajetória da instituição e de pessoas que fizeram parte da história baiana e brasileira. Constam do acervo que será exposto, 600 mil volumes, dos quais, 150 mil são livros e o restante dividido entre fitas de vídeo, DVDs, CDs, almanaques, partituras e periódicos como jornais e revistas. O evento terá livros raros e centenários e, por esta razão, está sendo realizado um trabalho prévio com vistas à digitalização dos conteúdos. O historiador Ubiratã Castro de Araújo, presidente da Fundação Pedro Calmon, a cujo órgão a biblioteca está vinculada, informou que a ideia inicial é permitir o acesso, via internet, de todos os títulos disponíveis na biblioteca. “Estamos trabalhando para qualificá-la. Queremos que no bicentenário ela seja uma biblioteca inteiramente automatizada, ligada em rede, com boa parte do seu acervo digitalizado e capaz de ser acessado por pessoas de qualquer parte do mundo”. Biblioteca Nacional Aliada à programação comemorativa dos 200 anos da Biblioteca Pública da Bahia, existe, segundo Ubiratã Castro, a pretensão de alçá-la ao nível de biblioteca nacional. “Essa condição de uma biblioteca moderna autorizará nossa reivindicação para que ela seja considerada uma biblioteca nacional, a exemplo do Rio de Janeiro e em Brasília. Nada mais justo que a primeira biblioteca, na primeira capital, também possa ter a condição de biblioteca nacional”, avalia. Na avaliação de Ubiratã, a centenária biblioteca pública baiana dispõe das condições necessárias para pleitear o título de entidade nacional. Ele destaca entre as principais características que congregam uma biblioteca nacional, o raio de ação da instituição, onde o acervo pode ser acessado de fora da sede, a integração com bibliotecas de outros estados e países e possuir obras raras e livros antigos que dizem respeito à história do Brasil. Universalização do atendimento “O que também caracteriza uma biblioteca nacional não é quantidade, mas sim a qualidade do acervo”, disse o historiador, informando que para acelerar o processo de digitalização das obras e favorecer a elevação ao patamar de biblioteca nacional alguns trabalhos já estão em andamento. Um dos destaques desses trabalhos, é o sistema Pergamum, em processo de aquisição, que será utilizado como uma forma integrada de armazenamento digital. O sistema já é adotado pelas principais bibliotecas do país e por órgãos do governo federal e para sua implantação na Bahia, parte da equipe de colaboradores já está em fase de treinamento. Outra medida que deverá ser adotada é a criação de condições de acesso a todos os usuários, independentemente da sua condição física. Para que os cegos possam também tenham acesso à leitura, a Biblioteca Pública do Estado da Bahia possui, atualmente, 300 títulos em Braille, além de fitas e CDs, chamados de livros falados (áudio livros). O teólogo e historiador, Antonio dos Santos Andrade, é um dos 350 usuários  que são atendidos, diariamente, na biblioteca. Com certa regularidade, Andrade realiza pesquisas relacionadas ao mercado de trabalho. “Esse espaço, sem dúvida, é de fundamental importância para que nós, cegos, tenhamos acesso ao conhecimento e desenvolvamos a leitura”. O presidente da Fundação Pedro Calmon relata que “da antiga sala de Braille, estamos evoluindo para o telecentro para cegos. É a universalização do atendimento ao cego em todos os setores da Biblioteca Pública, bem como a extensão dos serviços para surdos-mudos que é através da linguagem em libras”. Referência para estudantes, estudiosos e amantes da leitura O público frequentador da Biblioteca Pública da Bahia é misto. Não é raro encontrar grupos de crianças nas amplas salas, bem como pesquisadores dos mais variados gêneros. Alguns setores em pleno funcionamento na biblioteca já a tornaram referência para estudantes, estudiosos ou simples amantes da leitura. Conforme a diretora da Biblioteca, Ivana Lins, o setor de obras raras e valiosas, bem como os setores de documentação baiana e infantil são algumas das estratégias adotadas para atender e atrair os mais diferentes perfis de usuários.  “Temos um setor infantil muito frequentado com programação diária, onde contamos histórias, oferecemos oficinas e fazemos brincadeiras para conquistar as crianças para a leitura, além de um público muito grande de jovens que estão se preparando para o vestibular ou para concursos e pesquisadores que procuram livros históricos produzidos no mundo, colecionados e bem preservados”. Com muito cuidado, o arquiteto e professor universitário, Daniel Paz, manuseia as páginas amareladas pelo tempo. Para agilizar sua pesquisa, ele utiliza uma câmera fotográfica e registra os conteúdos sem disparar o flash. Quando soube da notícia de que o processo de digitalização já havia sido iniciado, Paz não escondeu o contentamento pela implantação da medida. “Estou fazendo um doutorado sobre historiografia urbana, tentando rastrear práticas socais relacionadas ao veraneio, o uso do mar e do litoral para lazer. O que tem sido de imensa valia pra mim aqui é a parte de periódicos, em especial, de revistas. Tenho conseguido flagrar, de maneira explícita ou nas entrelinhas, hábitos de uma determinada época. Digitalizar é imprescindível para que nós, pesquisadores, consigamos cobrir esse período cada vez mais distante”, declara. Exemplares do século XVI A biblioteca já ocupou diversos lugares como o salão acima da Catedral Basílica, o pavimento térreo da Casa do Senado, atual Palácio Rio Branco, onde ficou até ser construída a primeira sede na Praça Municipal (Thomé de Sousa), na área ocupada hoje pela prefeitura e mirante da Baía de Todos os Santos, ao lado do Elevador Lacerda. Da Praça Municipal, a biblioteca foi transferida para a sede atual, no prédio dos Barris, que este ano está completando 40 anos. O aniversário coincide com o Dia Nacional da Cultura, 5 de novembro, e será marcado por uma programação especial, destacando-se a terceira lavagem das escadarias do edifício. A diretora Ivana Lins, relembra que ao longo desses 199 anos existência, vários fatos marcaram a história da instituição. “Pelo fato de ser um equipamento social, obviamente, acompanhou todas as mudanças da sociedade nos seus quase 200 anos”, disse. Segundo ela, a biblioteca sofreu bombardeios, perdeu grande parte do acervo, mas alguns livros permaneceram na entidade e sobreviveram ao longo do período. “Temos exemplares do século 16”, informa. Atendimento aos domingos Atendendo a solicitação dos usuários, a biblioteca ampliou o horário de atendimento e passou a atender também aos domingos. “Atendemos de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 21h. Aos sábados, das 8h30 às 12h. começamos atender aos domingos em outubro do ano passado, no horário das 10 às 16h”. Ivana Lins chama atenção para um fato curioso que demonstra claramente a predominância masculina nos cargos da época. “Aqui era um ambiente frequentado apenas por homens. A primeira mulher que trabalhou na biblioteca foi em 1927, ou seja, mais de 100 anos depois. E à frente da direção da biblioteca, apenas em 1967”. De acordo com Ivana, os baianos além de aproveitarem a estrutura e diversificação de títulos, também doam importantes volumes. “A população baiana é muito generosa. Recebemos vários títulos, livros recentes”, finaliza.