Tombamento da Usina Cinco Rios será analisado por Conselho de Cultura

27/07/2010
Até o final deste mês (julho, 2010) o Conselho Estadual de Cultura da Bahia (CEC) inicia a apreciação do dossiê de tombamento da Usina Cinco Rios como Patrimônio Cultural, monumento industrial, hoje em ruínas, localizado no distrito de Maracangalha, pertencente ao atual município de São Sebastião do Passé, a cerca de 70 quilômetros de Salvador. Os dossiês de tombamento reúnem análises de importância arquitetônica – quando edificações -, histórica, depoimentos, entrevistas, bibliografia, além de extenso acervo documental e imagético, para propor e justificar um tombamento estadual. Se tombado, o bem cultural passa a ser protegido oficialmente pelo Estado e ter prioridade nas linhas de financiamento públicas, sejam elas municipais, estaduais, federais ou até internacionais. Os dossiês são elaborados por equipes multidisciplinares, compostas por técnicos de diversas áreas de conhecimento como história, arquitetura, sociologia, engenharia e antropologia, a depender das necessidades dos estudos e pesquisas realizados. O dossiê da usina foi produzido por integrantes do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, órgão da secretaria de Cultura (SecultBA), que desenvolve a política pública para os patrimônios culturais baianos, sejam eles materiais e imateriais. De acordo com o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça, a usina Cinco Rios, como a conhecemos hoje, foi fundada em 1912, mas remonta a região e toma emprestado o nome do Engenho Maracangalha, do século 16, que começou a ser construído em 1757. O equipamento já está desativado, mas é considerado de grande valor histórico e cultural e necessita de ações de preservação dos bens materiais e imateriais ainda existentes no local e seu entorno. “Trata-se do terceiro monumento industrial vinculado à produção açucareira baiana a ser tombado pelo Estado, já que antes haviam recebido essa tutela os engenhos de Baixo, no município de Aratuípe, em 2002, e o de Cajaíba, de São Francisco do Conde, em 2004, explica Mendonça. Além da edificação, a localidade de Maracangalha é conhecida por suas artesãs que trabalham com a taboa (Typha domingensis) planta aquática típica de brejos e várzeas com fibra durável, resistente e matéria-prima para papel, cartões, pastas, envelopes, cestas, bolsas e outros artesanatos. O compositor e cantor baiano Dorival Caymmi também difundiu uma música com mesmo nome, eternizando as sambadeiras locais. A região do Recôncavo reúne dezenas de engenhos de cana de açúcar fundamentais para a economia baiana e brasileira durante 300 anos, principalmente durante o período colonial e império, até a primeira metade do século 20. O tombamento chama atenção para mais uma edificação que pode apoiar iniciativas público-privadas visando a criação de um corredor turístico-cultural da Cana de Açúcar que além de grande atrativo, possibilitaria melhoria efetiva nas condições de vida e renda de dezenas de comunidades baianas, diz o diretor do IPAC. Após a apreciação e orientações do CEC, se aprovado, o dossiê de tombamento passa à SecultBA que corrobora a decisão do conselho e envia ao governador para sanção e publicação do decreto no Diário Oficial do Estado. História: Fundada em novembro de 1912, a Usina Cinco Rios recebeu equipamentos da Companhia Usina Bom Jardim, que surgiu em fusão de engenhos dos arredores, como o Sincoris, o Sapucaia, Cassarangongo, Paramirim e Maracangalha. O engenho Maracangalha já existia desde 1757 localizado na Freguesia de Nossa Senhora do Monte Recôncavo, que depois passa à São Francisco do Conde até ser transformado, posteriormente, em Usina Maracangalha, com produção de 80 toneladas, conforme registro de 1898. A Usina Cinco Rios foi uma das mais bem instaladas usinas baianas de açúcar, tendo maquinário de última geração e força motriz de máquinas a vapor, inovando ao utilizar o bagaço da cana como combustível e energia elétrica. A sua história, ligada ao período açucareiro, mostra a prosperidade – quando atingiu a contratação de 1,2 mil operários – e a decadência dessa economia na Bahia. Em 1972, a Usina Cinco Rios teve a maior safra de todos os tempos, produzindo açúcar de primeira qualidade apesar da decadência das demais na Bahia. Ao longo de seis administrações, a Usina fechou e reabriu várias vezes. A partir de sua instalação, o distrito de Maracangalha formou-se ao seu redor. Casas construídas pelos proprietários da fábrica acomodavam os trabalhadores, o comércio desenvolveu-se e o povoado cresceu em função da usina. A mão-de-obra empregada dividia-se entre trabalhadores rurais e da fábrica.