Palácio Rio Branco é reinaugurado em evento de apresentação do Plano de Reabilitação Participativo do Centro Antigo de Salvador

08/06/2010
Resultado de cooperação técnica entre o e a UNESCO, contando com um grupo gestor dos três níveis de governo e ampla participação da comunidade, acaba de ser concluído o Plano de Reabilitação Participativo do Centro Antigo de Salvador que aponta estratégias de desenvolvimento sustentável para a região e um amplo leque de ações concretas, parte delas já em andamento. A 6ª proposição do Plano prevê a “qualificação dos espaços culturais e monumentos do CAS”. Após a reforma, o Palácio vai abrigar o gabinete do Governador Jaques Wagner, a Secretaria de Cultura do Estado e no futuro, o Centro de Referência da Cultura Baiana, espaço lúdico e interativo para realização de atividades culturais, educativas e turísticas, uma referência da memória da cidade. O Centro servirá como um espaço de sistematização das informações culturais e turísticas por meio de mapeamento e registro dos acervos histórico e cultural. Localizado na praça fundacional da cidade, a cerca de 70 metros do nível do mar, no trecho mais elevado do que é, atualmente, o território soteropolitano, o Palácio Rio Branco – que agora dispõe de seis mil metros quadrados de espaço construído – passou por diversas reformas até chegar ao aspecto atual. O prédio é carregado de símbolos e emblemas republicanos já que sua linha arquitetônica remonta à última transformação realizada entre 1900, com vários salões e salas de inspiração renascentista, até 1912, quando ocorreu o bombardeamento pelo Forte de São Marcelo, quando foi reconstruído. Com sua lateral debruçada na encosta voltada para a Baía de Todos os Santos, a edificação tem nas suas vizinhanças o elevador Lacerda, a igreja e Santa Casa de Misericórdia, o palácio Arquiepiscopal e o Paço Municipal, os três primeiros tombados pelo governo federal e o último, pelo governo estadual, através do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), órgão da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA). O palácio encontra-se inserido na área tombada, desde 1984, como ‘Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da Cidade de Salvador’ pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Ministério da Cultura (MinC). De acordo com o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça, a última obra de restauração ocorreu há 23 anos. Já a restauração do IPAC começou em novembro de 2008, terminando no próximo dia 10 de junho (2010), quando o governador Jaques Wagner entrega a edificação para a Bahia. “Foram realizados serviços de restauração total da cobertura com inserção de calhas e sobre forro em fibra de vidro para proteger o telhado das intempéries climáticas, recuperação estrutural de vigas, lajes e pilares que apresentavam oxidação de ferragens, e da estrutura metálica de sustentação da cúpula que estava ameaçada de desmoronamento, caso não fosse recuperada imediatamente”, explica Mendonça. O prédio foi beneficiado ainda com manta asfáltica nas lajes das varandas descobertas, restauração dos pisos em pastilhas, de alta resistência, mármores e todos os pisos de madeira existentes nas salas internas. A equipe contratada do IPAC restaurou passeios em pedras portuguesas, além de todos os elementos artísticos e bens integrados ao monumento, incluindo vitrais, postes e luminárias antigas, forros, pinturas parietais, revestimentos, escada metálica, lustres de cristais, mobiliário histórico, elementos em cantaria, vidros decorados, lampiões e chafariz, entre outros. “Outra etapa importante foi a modernização do edifício, com a implantação de sistema de acessibilidade para portadores de necessidades especiais, e as reformas hidráulicas, elétricas e telefônicas”, ressalta o diretor do IPAC. Rampas, sanitários, plataforma elevatória e elevadores, além da recuperação e instalação de novos equipamentos do sistema de prevenção a incêndio e o paisagismo dos níveis do belvedere na encosta, complementam os serviços. Segundo os especialistas que trabalharam na obra, os tacos da Sala dos Espelhos foram fabricados manualmente, um a um, para se assemelharem o máximo possível aos originais. Também se descobriram pinturas parietais na edificação que podem chegar até a mais de quatro séculos de realizadas. Vidros decorados, lustres históricos, escadarias em bronze, mobiliários coloniais e espelhos Luís XV também passaram por minuciosos processos de restauração e conservação. PRODETUR 2 Os recursos da obra totalizam R$ 7,03 milhões do Ministério do Turismo, Banco do Nordeste (BNB) - repassados através da secretaria estadual do Turismo (Setur) - e contrapartida do governo baiano. A iniciativa integra do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (Prodetur 2) que, através do Ipac/SecultBA, executa a restauração de seis grandes edificações tombadas como ‘Patrimônio do Brasil’ pelo IPHAN, com investimento de R$ 20 milhões no Centro Histórico de Salvador (CHS), área tombada como ‘Patrimônio Nacional’ e reconhecida pela UNESCO como ‘Patrimônio da Humanidade’. O Prodetur é considerado um programa que busca a consolidação do turismo no Nordeste do Brasil. Os resultados dos investimentos realizados contribuem para que o turismo seja reconhecido como atividade de desenvolvimento econômico e possibilidade de melhoria dos indicadores sociais. O Prodetur é um programa de crédito para o setor público dos estados e municípios que foi concebido tanto para criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade da atividade turística, quanto para melhorar a qualidade de vida das populações residentes nas áreas beneficiadas. HISTÓRICO - O edifício estava ocupado até 2008 pela Fundação Cultural do Estado (Funceb) e pela Fundação Pedro Calmon (FPC), ambas instituições vinculadas à SecultBA. O palácio possuía sérios problemas na cobertura, devido a infiltrações de águas pluviais, na estrutura, no trecho voltado para a encosta, nos elementos decorativos das fachadas que apresentavam desprendimento e nos bens integrados, como forros, pinturas parietais, estuques, pisos, vitrais e clarabóia em estrutura metálica e vidro jateado, que necessitavam urgentemente de restauro. As paredes da edificação contam a história da Bahia e do Brasil, ao hospedar governadores gerais, vice-reis, reis, imperadores, presidentes de Províncias e governadores do Estado já republicano, até sua desativação como centro do poder executivo, em 1979. Pelos relatos do Padre Manoel da Nóbrega, superior dos jesuítas que acompanharam o 1º Governador, em 13 de junho de 1549, realizou-se na cidade a primeira procissão de Corpus Christi e ao derradeiro dia de abril estava já acabada a fortaleza estacada, em seguida, substituída pelo muro de taipa guarnecido de baluartes. De taipa, também, foram construídas a Casa dos Governadores, o Palácio Rio Branco, e a Casa da Vereança, hoje Câmara Municipal. Ambas sujeitas a muitas alterações e mudanças de estilos arquitetônicos nesses cinco séculos. A Câmara, após restauração, retornou a um estilo seiscentista. A fachada do edifício é eclética, com seu interior em refinado estilo da belle epóque.