Solar Bandeira será tombado pelo Estado da Bahia

31/05/2010
O proprietário do solar foi um dos introdutores da navegação a vapor na Bahia e um dos financiadores do movimento da Independência da Bahia, que culminou com a entrada do exército libertador em Salvador, a 2 de julho de 1823 – cortejo que hoje também é considerado, oficialmente através do IPAC, um ‘Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia’. Ainda neste primeiro semestre (2010), o governador Jaques Wagner deve autorizar o tombamento do único solar soteropolitano originalmente edificado por representantes da abastada classe de produtores de açúcar, uma das principais atividades econômicas do século 18, na Bahia. Trata-se do Solar Bandeira construído na segunda metade desse século (18), pelo senhor de engenho, Pedro Rodrigues Bandeira, que empresta seu nome a construção. O processo de tombamento da edificação, localizada na Ladeira da Soledade, nº126, no bairro de mesmo nome, na capital baiana, foi realizado pela equipe multidisciplinar do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) – órgão da secretaria estadual de Cultura (SecultBA) – e, posteriormente, encaminhado ao Conselho Estadual de Cultura que já deu parecer favorável. O dossiê está sendo analisado pelo jurídico da SecultBA e será encaminhado ao gabinete do governador, que faz as últimas deliberações e decreta o tombamento com publicação no Diário Oficial do Estado. Para o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça, o tombamento é importante pelo aspecto arquitetônico-histórico, representativo de época áurea da cidade, na qual se verificava apogeu da arquitetura monumental, e porque assegura a salvaguarda do imóvel pelo poder público. O dossiê do IPAC destaca que o palácio foi residência de Pedro Rodrigues Bandeira, um dos mais influentes baianos da época. “O comendador Bandeira, abastado comerciante, foi um dos introdutores da navegação a vapor na Bahia e um dos financiadores do movimento pela Independência da Bahia, que culminou com a entrada do exército libertador em Salvador, a 2 de julho de 1823”, explica Mendonça. Edificação - O imóvel possui dois pavimentos, sótão com trapeira, ou janela sobre telhado, se destacando ante o casario local e abrigando detalhamento peculiar no antigo jardim. “O dossiê mostra que a concepção da fachada principal e o jardim voltado para a Baía de Todos os Santos, eram reconhecidos como uma das áreas mais aprazíveis por diversos estrangeiros que visitavam a capital nos séculos 18 e 19”, diz Mendonça. A frontaria da casa mantém harmonia do ritmo de vãos, valorizados por molduras de lioz - pedra calcária branca e dura usada em cantaria e estatuária. Lamentavelmente, construções mais altas na vizinhança obstruíram a vista para o mar e a cidade baixa. A planta do solar é típica da época, mas, depois, seus cômodos foram subdivididos, a fim de abrigar famílias independentes, em regime de aluguel, e favorecer o uso comercial. Segundo os técnicos do IPAC essas divisões foram feitas de madeira e podem ser removidas para manter a leitura primitiva. No térreo, a circulação conduz o visitante do vestíbulo ao jardim e à escada de acesso aos andares superiores. O inventário de falecimento do proprietário, realizado em 1835, descreve que no pavimento nobre encontravam-se duas salas na frente e dois gabinetes, além de salas posteriores, servindo de “casa de missa”, com varanda e sete quartos, e que no quintal ficavam cozinha, cocheira e cavalariça. As paredes são de alvenaria de pedra, as divisórias em tijolo chato e paredes francesas. A edificação resguarda requintes decorativos, além das molduras de lioz na fachada, gradis de ferro decorados sobre púlpito de pedra no andar superior, além de forros de madeira com arremate em forma de ramalhetes de flores. Também foram conservados os silhares de azulejos, que, segundo registro do IPAC, possui motivos semelhantes aos encontrados no consistório da Ordem 3ª do Carmo, no Solar do Conde dos Arcos, em Santo Amaro da Purificação, e na ex-Secretaria de Educação e Saúde, atual prédio do Museu de Arte da Bahia (MAB), no Corredor da Vitória, em Salvador, que também é administrado pelo IPAC. Nos séculos 18 e 19 o jardim do Solar Bandeira chegou a ser classificado de “maravilha e orgulho da Bahia”, e se articulava por escadarias, onde antes havia declividade e hoje há uma casa. Seus canteiros perderam a forma geométrica, ao gosto do século 19. Apesar do atual aspecto de abandono, embaixo da copa de árvores, foram encontrados muro, conversadeiras de mármore e apoio de plantas, além de pedaços de louça policromada de origem mourisca. Outras informações sobre a importância do solar Bandeira, em Salvador, podem ser prestadas no IPAC, através do Tel. 3116-6742, de 9 às 12 e de 14 às 17 horas. O IPAC também disponibiliza dados no site www.ipac.ba.gov.br.